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Veja entrevista com 1º brasileiro a fazer o Tour d’Afrique
O ciclista e jornalista Alexandre Costa Nascimento embarca em breve para uma viagem que promete ser inesquecível. Alê, autor do blog Ir e Vir de Bike, vai participar do Tour d´Afrique, uma grande jornada ciclística que parte do Egito, no norte da África, e quatro meses depois chega na África do Sul.
Alexandre é o primeiro brasileiro a enfrentar o Tour d´Afrique, evento que já teve 10 edições e reuniu cerca de 400 ciclistas de mais de 20 países. A expedição percorrerá 10 países – Egito, Sudão, Etiópia, Quênia, Tanzânia, Malauí, Moçambique, Zâmbia, Zimbábue, Botsuana, Namíbia e África do Sul – num total de quase 12 mil quilômetros. Se tudo der certo, os ciclistas farão uma média de quase 120 quilômetros por dia de pedal.
Conversamos por e-mail com Alê, que tirou alguns minutos de sua preparação para contar ao Eu Vou de Bike um pouco mais sobre as expectativas e os detalhes da viagem. Veja a entrevista abaixo:
– A jornada começa em alguns dias. Como foi a preparação física para encarar 4 meses de pedal no verão africano?
Na verdade tenho mantido o ritmo normal de pedaladas que é ir e vir de bike do trabalho durante a semana e dar algumas pedaladas mais longas no fim de semana pela Região Metropolitana de Curitiba. A ideia é apenas manter o condicionamento físico, já que não há treinamento específico capaz de simular as condições que serão enfrentadas durante a expedição, com os diferentes terrenos, o clima rigoroso além da parte psicológica para lidar com tudo isso. Os participantes das edições anteriores são unânimes em apontar que só se pega o ritmo de verdade durante a viagem, após os primeiros dias de “sofrimento”. No fim das contas, esse “batismo de fogo” também é parte do processo.
– Além da preparação física, quanto tempo levou para você organizar a viagem – vistos, passagens, etc? Tem alguma dica para quem pensa em enfrentar algo parecido?
Comecei a correr atrás de tudo há cerca de três meses, quando “cruzei o Rubicão” e decidi que faria o Tour d´Afrique. Desde então, a rotina tem sido a de matar um leão por dia. É preciso lidar com os aspectos da viagem — inscrição, equipamentos, vistos, vacinas –, com a vida cotidiana que segue, além de deixar tudo relativamente organizado para o período de quatro meses de ausência. Apenas três dos dez países exigem visto antecipadamente: Sudão, Etiópia e Maluí — todos eles têm representação diplomática em Brasília, o que facilita o processo. É um mundo de coisas para serem resolvidas ao mesmo tempo, o que requer planejamento, organização e paciência para lidar com os contratempos. É uma fase um pouco estressante, mas a cada etapa vencida, a cada problema resolvido, sinto que estou um pouco mais próximo da África. A dica é ter disposição para realizar um grande sonho e se planejar para concretizá-lo.
– Que equipamento você está levando? Além da bicicleta, há alguma outra coisa? Como funciona a logística do Tour d´Afrique?
A bicicleta é uma aro 29″, com quadro de alumínio e câmbio de 27 marchas (Acera), com suspensão dianteira e freios v-brake. A ideia é que seja uma bike robusta, que dê pouca manutenção mas forte, capaz de aguentar o “tranco”. A bicicleta é equipada com alforges e um GPS (se perder no meio da savana não deve ser algo tão legal!!!). Também levarei alguns itens de reserva e peças de reposição (raio, aro, pneu, cassete, correntes, sapatas de freio). Na bagagem vai ainda um kit de acampamento (barraca, saco de dormir e utensílios), além de equipamento de trabalho como computador, câmera fotográfica, GoPro. Também levo um kit de primeiros socorros com remédios desde uma dor de cabeça ou resfriado até para situações de emergência, como uma contaminação por malária. A parte “pesada” dos equipamentos vai no carro de apoio — mas há uma limitação de volume por participante.
– Quais são as dificuldades que você espera enfrentar pela frente? Existe algum temor pela segurança?
Creio que o aspecto humano será o mais difícil de lidar. A África tem uma beleza natural ímpar, uma cultura riquíssima, mas também não podemos nos esquecer que aquele é o continente mais pobre do planeta. Há países que viveram ou ainda vivem ditaduras sanguinárias, que são assolados pela fome e pela miséria. Na faculdade de jornalismo tentam te ensinar a um certo “distanciamento” dos fatos. Mas é da natureza humana se indignar diante das grandes injustiças e, no dia que eu perder isso, perco também a razão de ser jornalista.
Quanto a questão da segurança, existe sim alguns riscos envolvidos. Muitos países são instáveis e ainda atravessam turbulências políticas internas. A organização do Tour d´Afrique vai monitorando a todo instante o cenário geopolítico e, havendo qualquer perigo iminente, a rota é alterada.
– Você já fez outras viagens longas de bicicleta. O que o Tour d´Afrique tem de diferente de tudo o que você já fez (tirando o fato de ser na África)?
Em distância, o Tour d´Afrique é o maior evento ciclístico do planeta. São 12 mil quilômetros para atravessar o continente de Norte a Sul — do Cairo ao Cabo –, passando por 10 países. Em termos de uma aventura de bicicleta, acho que poucas coisas são comparáveis a essa jornada épica. Vamos pedalar por aqueles lugares que vemos em filmes e documentários da NatGeo, como as Pirâmides do Egito, os Templos Sagrados do Nilo, o deserto do Sudão, as Montanhas bíblicas da Etiópia, as Cataratas de Victória, o Lago Malauí, o Monte Kilimanjaro, a cratera do Ngorongoro, o Kalahari e a magnífica Cidade do Cabo. Além disso, são mais de 60 ciclistas do mundo todo juntos nessa empreitada. Essa convivência também deve ser algo marcante para forjar aquelas amizades que duram para a vida toda.
Foto: Divulgação/Andreza G. L. Costa Nascimento
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