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Viajando de Bike pela América do Sul
Quem nos acompanha sabe que aqui no EVDB nós adoramos cicloturismo por vários motivos! Sóa quem já fez sabe o quanto é prazerosa esta modalidade de ciclismo, além de, muitas vezes, representar uma auto-superação tão grande que nos deixa lições práticas para aplicarmos sempre em nossas vidas.
Para motivar mais ainda nossos leitores a se animarem e se atreverem a ao menos pensar na possibilidade de realizar uma viagem de bike, segue uma entrevista inspiradora com o André Costa e a Ana Vivian, que estão viajando pela América do Sul já há um ano e três meses!!!
André e Ana por eles mesmos: Nos conhecemos quando éramos estudantes em Florianópolis, e desde o começo do namoro realizávamos passeios de bicicleta pela cidade. Não satisfeitos em pedalar apenas nos finais de semana começamos a usar a bicicleta para ir a todo lugar durante nosso dia-a-dia e descobrimos o grupo da bicicletada na cidade, onde fizemos diversos amigos e aprendemos muito. Anos mais tarde terminamos a faculdade e nos casamos, e fomos ao nosso próprio casamento de bicicleta, pedalamos pouco mais de 30km até a Igreja com alguns convidados e padrinhos, todos trajados já para a cerimônia. Aí foi que a família toda percebeu como gostamos muito de pedalar, e começaram a se acostumar com a ideia de que iríamos fazer uma longa viagem de bicicleta, que há tanto tempo sonhávamos em realizar.
Porquê se interessaram pelo cicloturismo?
O André foi quem se interessou primeiro, mas não foi propriamente por cicloturismo, ele tinha uma idéia que eu achava maluca na época, de ir andando até a cidade natal dele, distante uns 800km de onde vivíamos. Aí na época das férias de verão, ele e um amigo fizeram uma pequena viagem de 10 dias pela Serra Catarinense, e eu não fui convidada, fiquei me remoendo de inveja, eu estava mais empolgada que eles, mas minha bicicleta não era adaptada e eu ainda não tinha capacidade física pra acompanhar os dois gurís serra acima. Então no período que eles estavam viajando eu fiquei navegando na internet buscando informações sobre viagem de bicicleta, sempre ansiosa pelo telefonema do final do dia, pra saber onde eles estariam acampando. Na internet descobri que existia até um termo pra isso, o “cicloturismo”. No verão seguinte eu me convidei pra fazer parte do grupo, e fizemos uma viagem juntos, também pela serra catarinense, por outras estradas. Então nosso interesse não foi especificamente por fazer turismo em bicicleta, mas sim por viajar. Atualmente viajamos de bicicleta, e adoramos a perfeita harmonia entre turismo e exercício físico, mas quem sabe um dia ainda viajaremos a pé, o sonho primordial não foi abandonado…
3-) Quais foram as suas principais experiências no cicloturismo?
As primeiras experiências nunca excederam 10 dias de viagem. Como éramos estudantes na época, sem dinheiro, só acampávamos em todo o trajeto e gastávamos muito pouco com comida. André fez a primeira viagem com um amigo, e no outro ano eu embarquei junto no grupo para uma viagem muito similar. Depois das duas viagens pela Serra Catarinense, fizemos o circuito do Vale Europeu. Fizemos uns trechos do Circuito Costa Verde e Mar durante alguns verões, e em 2011 viajamos 15 dias com um grupo de amigos para participar do Fórum Mundial da Bicicleta em Porto Alegre, fomos e voltamos de bike por estradas secundárias e sempre acampando. Mas desde antes de nos formarmos sonhávamos com o que estamos realizando hoje, uma longa viagem pela América do Sul, sem data pra voltar.
4-) Como tem sido pedalar pela América Latina?
A experiência tem sido maravilhosa. Deixamos nossa casa vazia e partimos sem saber se ficaríamos um mês viajando, um ano, dois anos… Não criamos expectativas nem nos pusemos compromissos. Nossa meta sempre foi desfrutar do caminho, nunca tivemos um destino final a ser alcançado nem uma meta de quilômetros diária. Somente o objetivo de chegar em casa outra vez, sãos e salvos, daqui a algum tempo. Pelo fato de não sabermos o que esperar de cada dia, qualquer coisa que aconteça é vista como uma boa surpresa. Mesmo nos dias muito difíceis, sempre aprendemos alguma coisa, principalmente sobre ter paciência e compreensão. Nunca imaginamos que as diferenças culturais entre os países vizinhos ao nosso seriam tão grandes. Nunca pensamos que as montanhas dos Andes seriam tão colossais. Nem que os famosos ventos patagônicos fossem tão concretos. Antes da viagem havíamos lido vários livros de outros cicloviajantes, relatos em outros blogs, sempre pra alimentar nosso sonho de um dia partir de viagem. Mas não tem como, quando é a gente mesmo que está ali a coisa é bem diferente e nem sempre a gente tem a reação que espera diante dos desafios. Conhecemos pessoas muito bacanas, depois de um ano viajando fizemos amigos do mundo inteiro, deixamos famílias emprestadas em todos os países que passamos, sempre com o convite de voltarmos pra uma outra visita algum dia. Mas além das experiências boas também tivemos situações difíceis,como quando nos perdemos num passo de fronteira que não tinha estrada entre o sul do Chile e Argentina e nossa comida terminou, ou quando fomos atacados por cães violentos no Perú inúmeras vezes, dormimos em noites congelantes a -17ºC na Bolívia com aquelas estradas péssimas, passamos noites apreensivos de medo dentro da barraca em certas regiões mais perigosas… Mas o dia termina e recomeça e sempre tem algo de bom esperando de novo pra acontecer, e isso tem motivado a gente a seguir um dia mais, e mais um outro mês, mais alguns quilômetros, e até agora já se passaram um ano e 3 meses de viagem, mais de 13.500km percorridos pedalando.
5-) Existem muitas diferenças entre as infra-estruturas das principais capitais por onde vocês têm passado?
No primeiro trecho de viagem evitamos ao máximo entrar em cidades médias a grandes. Fizemos voltas grandes só pra evitar cidades como Mendoza e San Juan na Argentina, por exemplo. Então não temos muito como comparar, porque só começamos a entrar em cidades maiores quando estávamos pedalando com um casal de amigos agora entre o norte da Bolívia e Perú. As únicas capitais que conhecemos foram La Paz, na Bolívia, e Lima, no Perú. Mas o que dá pra notar de maneira geral, é que na América do Sul não existe estrutura para viajar de bicicleta, apesar da grande quantidade de viajantes circulando com suas magrelas por estas terras. Quem vem pedalar de outros continentes para cá, vêm pelo fator aventura da coisa. A única estrutura que se pode dizer que existe são as Casas de Ciclistas, lugares onde alguma família disponibiliza um espaço para os ciclistas descansarem em cidades maiores. Estas Casas são geralmente um grande esforço e paixão por parte do proprietário, e são um verdadeiro oásis para o viajante, mas são todas iniciativas de pessoas isoladas e estruturas ainda tímidas. As Casas de Ciclistas que tivemos o prazer de conhecer foram em Villa Manihuales, na Patagônia Chilena, em La Paz, na Bolívia e em Trujillo, no Perú. E ficamos sabendo recentemente que o Brasil teve inaugurada sua primeira casa de ciclistas em Foz do Iguaçú no Paraná, estamos planejando passar por lá na nossa volta. De maneira geral entrar em cidades grandes como as capitais é um grande risco, a área periférica geralmente é perigosa por ter pouca presença policial e poucas pessoas circulando a pé, e o trânsito um risco ainda maior, por isso evitamos passar por estes lugares. Em Lima, por exemplo, até existe uma linda ciclovia numa grande avenida arborizada e agradável, mas até chegar lá você já passou por muita coisa nada amistosa. Por outro lado, em pequenas cidades é fácil de chegar, sempre tem uma escolinha com gramado pra acampar, ou uma igreja com salão pra dormir, ou alguém que te oferece água e acaba te deixando acampar no quintal, e na minha opinião esta é a estrutura mais maravilhosa que existe pra alguém que viaja em bicicleta, a possibilidade de receber hospitalidade e solidariedade das pessoas pelo caminho, porque você está mais próximo delas, mais aberto e vulnerável de certo modo.
6-) Alguma dica para os iniciantes?
Tem tantas dicas, coisas que a gente foi aprendendo aos poucos, coisas que outros cicloviajantes nos ensinaram também. Mas seria bastante longo descrever tudo agora. Diríamos que a principal seria de não deixar as questões “técnicas” te impedirem de realizar uma viagem que sonhas. Não importa se a bicicleta é ruim ou boa, não importam se tem os melhores equipamentos do mundo ou só tem gambiarra, o que importa é ter a vontade de realizar. A gente viu muitos ciclistas viajando só com coisas Top de linha, e vimos muitos mais, uma infinidade mais, viajando no improviso. O que percebemos é que no começo, por insegurança saímos carregados demais, porque tínhamos medo de precisar de algo e não ter à mão. A consequência foi que nos primeiros 10 dias de viagem despachamos 4kg de coisas inúteis devolta pra casa dos pais, e ao longo da viagem fomos doando outras tantas. Mas a verdade é que o melhor é sair com poucas coisas e na medida do que sente necessidade, adquire quando, e se realmente precisar. Com o tempo vamos conseguindo viver com cada vez menos coisas, e isso deixa as subidas menos cansativas, deixa o caminho mais leve, sobra um pouco mais de energia pra desfrutar a estrada.
7-) Quais são seus projetos para o futuro?
Nosso futuro mais imediato agora é conhecer nosso próprio país um pouco mais, aproveitar um pouco de verão, já que estamos praticamente há um ano vivendo em clima de inverno. E depois que esta viagem terminar iremos tentar algumas experiências num pedacinho de terra no interior de Santa Catarina, ainda não sabemos muito bem o quê, mas algo como tentar construir a nossa casa por lá, já que o apartamento que morávamos em Florianópolis não abriga mais nossos sonhos. Ainda teremos muito trabalho pela frente quando retornamos pra casa, são muitas fotos e vídeos, relatos que queremos seguir compartilhando com as pessoas sobre esta viagem, ainda não sabemos qual formato irá ter, mas sabemos que é preciso contagiar as pessoas a realizarem seus sonhos de viagem.
Estamos prestes a entrar no Brasil novamente, a emoção é grande, tão grande que é até maior do que quando cruzamos nossa primeira fronteira, deixando o nosso país pela primeira vez. Então queremos convidar todos a nos acompanhar pelo Blog e pela nossa página no Facebook, e se sua cidade estiver perto de nosso caminho, a encontrar com a gente prum papo ou até pedalar conosco em algum trecho, e se tiver um quintal pra gente passar a noite então, maravilha!
Vamos? Acompanhe o convite deles no Blog e no Facebook!
E se você tem alguma experiência em cicloturismo, aproveite e responda este questionário e ajude nosso leitor Renan em seu trabalho acadêmico que busca traçar o perfil do cicloturista brasileiro!
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